Sitese - Conferência
O ex-Presidente da República Mário Soares afirmou no dia 28 que o Tratado de Amesterdão foi uma «enorme decepção» para todos os europeístas e reafirmou a sua oposição ao liberalismo e ao «pensamento único» que diz que o modelo europeu «já deu o que tinha a dar» e que defende a privatização dos serviços de saúde e segurança social.
Falando na Conferência «O Tratado de Amesterdão e o Desafio Europeu: A Europa no Limiar do novo Milénio», organizada pelo Sitese, Mário Soares assinalou que, depois de todos os estudos e seminários e discussões no Parlamento Europeu (PE), «nenhum dos grandes problemas que estavam em cima da mesa da Europa foi resolvido» em Amesterdão, «nem houve uma tentativa séria para os abordar».
Sublinhando que numa fase menos avançada da construção europeia a adesão de Portugal demorou mais de oito anos a negociar, Soares acrescentou que «nada está negociado nem resolvido quanto ao alargamento».
O antigo Presidente da República defendeu que o projecto europeu foi desde o início essencialmente político e conseguiu 50 anos de paz, progresso e desenvolvimento no continente e sustentou que a UE tem de se assumir como verdadeira união, com instituições políticas supranacionais.
Sobre a situação política internacional, Mário Soares afirmou que os Estados Unidos «não têm uma visão global do mundo, só olham para os seus próprios interesses, as Nações Unidas estão debilitadas e os Estados Unidos criaram os G7, dos sete mais ricos, agora G7 mais 1 com a inclusão da Rússia, que são uma espécie de directório para mandar no mundo».
Destacou que houve uma grande desregulação internacional, quer a nível político quer económico, salientando que o capital deixou de estar vinculado à produção e passou a ser essencialmente especulativo, com o dinheiro a gerar dinheiro em vez de se investir na produção de bens, nomeadamente industriais e agrícolas.
«As grandes fortunas hoje fazem-se na especulação nas bolsas e mercados», observou Mário Soares, acrescentando que se mobilizam em horas muitos milhões de dólares e se põem países «de cócoras» de um momento para o outro.
O ex-Presidente da República assinalou que com a hegemonia dos Estados Unidos e do liberalismo veio o «pensamento único» que diz que o modelo europeu «já deu o que tinha a dar» e que defende a privatização dos serviços de saúde e segurança social.
«É o poder económico a dominar o poder político», segundo Soares, que sublinhou que «as consequências a prazo podem ser trágicas» e que «a economia é para estar ao serviço dos homens e não os homens ao serviço das economias».
«Precisamos de ter consciência da força que temos e lutar com perseverança e coragem para que o mundo seja menos injusto», concluiu Mário Soares.
Para além de Mário Soares, participaram nesta iniciativa do Sitese Seixas da Costa, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, os eurodeputados Barros Moura, Helena Vaz da Silva e Fernando Moran, o deputado e dirigente do PS António Reis e o presidente do Sitese, Vítor Hugo Sequeira.
(JCCB)
Atenção às pequenas surpresas
O novo Código de Estrada que entrou em vigor no último dia de Março, traz sanções mais duras para os condutores perigosos e contém pequenas surpresas que vão obrigar a comportamentos mais seguros na estrada.
Assim, cada condutor vai passar a ter um «cadastro» individual onde irão sendo anotadas todas as infracções. Ao fim de três faltas muito graves fica-se sem carta, sendo então necessário fazer novo exame de habilitação para conduzir.
Quem, por exemplo, for apanhado a exceder o limite de velocidade em 60 km/hora e acuse uma taxa de alcoolémia superior a 0,80 gramas por litro de sangue ficará automaticamente com duas infracções muito graves e a um passo de ficar sem carta.
Outra das inovações deste Código prende-se com o pagamento de multas. Até agora os infractores só eram obrigados a pagar as multas depois de serem notificados pessoalmente. Com o novo Código basta que uma carta registada seja assinada por alguém na residência do proprietário do veículo, para que o condutor seja considerado notificado.
Com o novo Código, os pesados de mercadorias vão passar a andar com os faróis acesos, mesmo durante o dia, sempre que transportem mercadorias perigosas. Ainda no capítulo das luzes, os automobilistas que diariamente circulam na quinta via da Ponte 25 de Abril e noutras vias de sentido reversível, vão começar a ser alertados para a necessidade de o fazerem com os médios acesos mesmo durante o dia. A finalidade é evitar um choque frontal, sempre possível, nestas vias de duplo sentido.
O novo sinal de trânsito, que alerta para a obrigatoriedade de acender os médios, foi criado por diploma de 16 de Fevereiro e vai começar a ser colocado em breve. Estes alertas vão, também, estender-se à entrada dos túneis, onde já era obrigatório acender as luzes pelo Código anterior mas que praticamente ninguém cumpria.
O Código de 1998 não contém só medidas mais restritivas para os automobilistas. Também o peão, enquanto utilizador da via publica e causador de acidentes por negligência, vai passar a estar sujeito a multas. Assim um peão que atravesse fora das passadeiras, quando existir uma a menos de 50 metros, pode ser multado entre 1 000 e 5 000 escudos.
Da mesma forma, quem, por negligência, permitir que um menor a seu cargo vá brincar para as faixas de rodagem pode ter a surpresa de ver a criança chegar a casa pela mão de um polícia que, ao mesmo tempo, o «convidará» a pagar uma coima entre 5 e 25 mil escudos.
Relativamente ao estacionamento, o novo Código estabelece que estacionar junto a uma passadeira de peões só é perigoso quando o carro estacionado oculta o peão que vai atravessar ao automobilista que se aproxima da passadeira. Isto é, a partir de agora só é proibido estacionar a menos de cinco metros antes das passadeiras mas não logo a seguir a elas.
Ainda no capítulo do estacionamento o automobilista deve passar a ter cuidado ao estacionar numa faixa de rodagem, mesmo que no local não exista qualquer sinal de proibição, porque se a via tiver um traço contínuo ao meio só é permitido estacionar, dentro e fora das localidades, quando a distância entre o traço contínuo e o veiculo for igual ou superior a três metros.
Esta disposição, que já existia no Código anterior para fora das localidades, passa agora a vigorar também dentro das localidades para evitar que, devido a falta de espaço, os veículos em circulação sejam obrigados a pisar o traço contínuo.
Deixa de ser obrigatório o contorno pela direita das placas triangulares colocadas no eixo da via, passando a poder ser contornadas pela direita ou pela esquerda conforme o automobilista pretenda mudar de direcção para a direita ou para a esquerda. Prevê-se que, a pouco e pouco, estas placas triangulares sejam substituídas por rotundas, onde a circulação se faz sempre pela direita.
O transporte de carga que exceda os limites de comprimento ou largura dos veículos, incluindo os ligeiros, também sofreu alterações. Assim, as bicicletas de férias penduradas fora da mala do carro e as pranchas de «surf» a saírem pelas janela, acabaram. A partir de agora, bagagem fora da mala só no tejadilho e mesmo assim sem exceder os contornos do carro.
Pelo novo Código todos os veículos que circulem sobre carris passam a obrigar os automobilistas a ceder-lhes passagem. Assim, sempre que num cruzamento encontrar pela esquerda um «eléctrico» da Carris ou um comboio, deve ceder a passagem.
O novo Código, no seguimento do que já vigorava desde 1994, não fala em «direito de prioridade» mas apenas no dever de «cedência de passagem» reforçando mesmo esta ideia. O velho Código de 1994, embora já utilizando a expressão «cedência de passagem», incluía-a numa secção cujo título genérico era «Prioridade de Passagem».
Na actual redacção, o próprio título da secção mudou para «Cedência de Passagem», o que vem dar mais ênfase à nova filosofia que consiste em substituir uma condução agressiva, em que cada automobilista procurava afirmar os seus direitos, por nova condução mais defensiva, em que se procura sublinhar o dever de ceder passagem aos outros.
Relativamente aos motociclos, o novo Código vem facilitar o acesso dos menores à condução de motociclos, dado que o limite de idade baixa dos 17 para os 16 anos. Esta medida que pode parecer, à primeira vista um certo relaxe relativamente à segurança, já que a cilindrada permitida sobe de 50 para 125 centímetro cúbicos, não o é na realidade, dado que passa a exigir em vez da velha licença camarária, uma carta de condução, com tudo o que isso implica de conhecimentos teóricos e práticos.
O Tribunal de Contas concedeu, recentemente, o visto ao protocolo estabelecido entre a Junta Autónoma de Estradas (JAE) e a Brisa para a instauração do sistema de portagem no IC1 (Torres Vedras-Bombarral) por considerar «não haver fundamentos legais que justifiquem a recusa».
O acórdão do Tribunal de Contas, de 3 de Março último, vem assim dar razão ao ministro do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território, João Cravinho, que nos últimos cinco meses foi alvo de acusações e polémicas.
Recorde-se que João Cravinho sempre recusou dar razão às alegadas ilegalidades em torno das portagens do Oeste sustentadas pelos partidos da oposição parlamentar e pela Comissão Contra as Portagens.
«Um acto formal gerador de despesa pública, como contrapartida das aquisições patrimoniais resultantes das obras de adaptação ao sistema de portagem.» É com base desta definição do protocolo que o Tribunal de Contas sustenta a sua decisão.
Anda segundo a mesma entidade jurídica, «o facto, público, de as obras se terem concluído em finais de Agosto de 1997 não obsta à licitude do acto, uma vez que, o contrato podia produzir todos os seus efeitos, com excepção do pagamento do respectivo preço».
Entretanto, o facto de à altura da celebração do
protocolo, «a Brisa não ser titular do direito de concessão
e exploração do referido troço não obsta à
licitude do mesmo, uma vez que, à data da homologação,
a Brisa adquiriu esse direito».
Conselho Superior Militar aprova
O Conselho Superior Militar (CSM) concluiu, no dia 26, em Lisboa, os trabalhos relativos à proposta de 3ª Lei de Programação Militar, revelou, também na passada quinta-feira, o ministro da Defesa, Veiga Simão.
«Mantêm-se as prioridades na aquisição de submarinos para a Armada, helicópteros para o Grupo de Aviação Ligeira do Exército e aviões de caça F-16», adiantou Veiga Simão.
«A lei está concluída e será aprovada» na próxima reunião do CSM a realizar-se amanhã. Foi essa a indicação deixada pelo ministro da Defesa.
Veiga Simão acrescentou que alguns programas de «natureza horizontal» (abrangendo os três ramos) que não especificou também foram transformados em prioridades.
O desenvolvimento do sistema integrado de comunicações (SICOM) é uma dessas áreas horizontais, cuja concretização tem sido considerada essencial pelo titular da pasta da Defesa para o controlo efectivo de todo o espaço territorial português.
As Leis de Programação Militares têm registado nos últimos anos um peso crescente dos investimentos destinados à aquisição de equipamentos de duplo uso para as Forças Armadas.
O orçamento destinado à Cooperação Técnico-Militar (CTM) com os países africanos lusófonos poderá aproximar-se dos três milhões de contos no próximo ano, em vez dos 1,6 milhões gastos actualmente.
Veiga Simão, que presidiu, no passado dia 26 de Março, ao Conselho Superior Militar em que o tema da CTM foi o ponto principal da agenda da reunião, reafirmou a sua vontade de duplicar em 1999 os cerca de 950 mil contos investidos pelos órgãos centrais do ministério naquela área.
Como os ramos militares, «devido às circunstâncias, aumentarão alguma coisa» aos cerca de 650 mil contos que saem dos seus orçamentos, segundo o ministro da Defesa, chega-se a uma verba próxima dos três milhões de contos para a CTM.
A desejada duplicação de verbas para a CTM é feita a «pensar em formação» de quadros, na «criação de organismos», no desenvolvimento do sector da Saúde e «em meios de fiscalização» e de «melhoria de infra-estruturas técnicas militares» dos PALOP, adiantou.
Veiga Simão enfatizou que a CTM com os países africanos lusófonos é uma «grande prioridade nacional», cujos dez anos de existência vão ser comemorados dentro de duas semanas em S. Tomé e Príncipe.
Nessa ocasião, o governante vai entregar às autoridades
são-tomenses o certificado internacional que atesta o trabalho de
assinalamento marítimo das costas do arquipélago feito pela
Armada portuguesa.
Expo'98
Todos os acessos próximos à Expo'98 a partir de Lisboa ficaram, no passado dia 26, operacionais, com destaque para a abertura ao tráfego dos viadutos da Segunda Circular sobre a Rotunda do Relógio e do Nó do Prior Velho.
A rede, bem sinalizada, obriga qualquer automobilista que se queira mover razoavelmente a fazer o reconhecimento de toda a zona o mais rapidamente possível.
«Os investimentos nos acessos, que inclui um conjunto de túneis, viadutos, reconstrução e alargamento de artérias feitas directamente pela Parque Expo'98, atingiram os 17 milhões de contos», disse Torres Campos, presidente da empresa.
Do conjunto dos acessos na zona Oriental só não entrou em funcionamento a ligação à Ponte Vasco da Gama a partir do túnel sob a Praça José Queirós, mas que estará concluída antes da abertura da Exposição Mundial.
Entretanto, a CML vai receber, no próximo dia 20, o grande viaduto, junto a Santa Apolónia, onde se cruzam a Avenida Infante D. Henrique em direcção à Expo e um viaduto que liga a baixa de Lisboa à zona do Alto de São João.
A inauguração formal da rede de acessos decorreu no dia 27 de Março à tarde com as presenças do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, João Soares, e do vereador do Trânsito, Machado Rodrigues, de Torres Campos e do administrador da Parque Expo'98, António Pinto.
O ponto de encontro foi no novo viaduto da Segunda Circular sobre a Rotunda do Relógio que consagra a também chamada Avenida Norton de Matos com uma verdadeira rede distribuidora de tráfego em direcção à Avenida Marechal Gomes da Costa, Avenida Infante D. Henrique e baixa da cidade.
O viaduto, construído no período recorde de oito meses e que tem seguimento pela Marechal Gomes da Costa, tem outro grande objectivo - libertar a Rotunda do Relógio fundamentalmente ao tráfego do aeroporto.
Segundo Machado Rodrigues, a construção do viaduto representou um investimento de 1,6 milhões de contos, pagos com fundos comunitários e a parte restante pela Câmara e pela Parque Expo'98.
O vereador acrescentou que a CML gastou, no conjunto das acessibilidades à Expo, 13 milhões de contos, sete milhões em obras (troço Sul da Infante D. Henrique e outras) e seis milhões em indemnizações.
O secretário de Estado da Juventude, Miguel Fontes, anunciou, no dia 28 de Março, um «pacote» de descontos aos portadores do Cartão Jovem que queiram visitar a Expo'98 e um programa com entradas gratuitas para os mais carenciados.
Até ao dia 21 deste mês, o tarifário diurno para adultos, que é de cinco contos no bilhete de um dia e 2.500 para crianças/seniores, o preço do cartão fica respectivamente nos 4.250 escudos e 2.200 escudos.
O nocturno é de dois contos, três dias saem por 10 contos e para crianças/seniores por cinco contos, ficando o cartão respectivamente a 1.700 escudos, nove contos e 4.500 escudos.
A partir do dia 22, os tarifários mantêm-se em todas as
categorias, excepto nos bilhetes de três dias para adultos, crianças
e seniores, em que passa para 12.500 escudos e 6.250 escudos, enquanto
o cartão se fica, respectivamente, pelos dez e cinco contos.
Inauguração: Ponte Vasco da
Gama
A cerimónia de inauguração da Ponte Vasco da Gama cumpriu-se no dia 29 de Março com a presença dos principais dignitários do País, entre cerca de 1.500 convidados.
Ao contrário do que é habitual a inauguração não incluiu o tradicional corte da fita pelo Presidente da República. Foi uma cerimónia sem pompas, como quis o Governo.
Batiam exactamente as 12 hora, no passado domingo, dia 29 de Março, quando o Presidente da República, Jorge Sampaio, depois de ter recebido honras militares por um batalhão da GNR, entrou na grande tenda onde era aguardado pelos representantes de todos os órgãos de soberania, D. José Policarpo, patriarca de Lisboa, e restantes convidados.
Após os discursos e a cerimónia de emissão de um selo dos CTT comemorativo da inauguração, seguiu-se no exterior a homenagem aos 11 trabalhadores mortos durante a construção da travessia, cujos nomes constam numa lápide em pedra negra.
A invocação das vítimas foi feita com orações pelo patriarca, D. José Policarpo, que depois benzeu a nova ponte.
Na ocasião, Jorge Sampaio presidiu também ao descerramento da placa alusiva à inauguração no monumento da autoria de Jorge Vieira.
A Força Aérea Portuguesa associou-se à festa com a participação de caças que sobrevoaram a ponte desde o Montijo ao estuário do Tejo.
Findas as cerimónias na Praça da Portagem, mais de 40 autocarros ocupados com os participantes na inauguração e algumas dezenas de automóveis oficiais fizeram em marcha lenta a primeira travessia oficial da nova ponte, perante os olhares de centenas de populares que em todos os acessos esperavam mais umas horas para poderem fazer o mesmo.
Sob tenda onde decorreram as celebrações, estava colocada em lugar central a mesa da Presidência junto da qual, a curta distância, se sentou o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.
Numa primeira fila de cadeiras liam-se os nomes de ex-presidentes da República do Portugal democrático: Costa Gomes, Ramalho Eanes e Mário Soares.
Também na primeira fila, outros lugares estiveram ocupados pelos presidentes do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Cardona Ferreira, e Tribunal Constitucional, Cardoso da Costa, bem como os ministros dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, Defesa, Veiga Simão, Administração Interna, Jorge Coelho, e Economia, Pina Moura.
Mais atrás, estiveram sentados o chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas, general Espírito Santo, e o presidente do Supremo Tribunal Militar, Almeida Bruno.
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) esteve representada em bloco na sessão em que o seu presidente, João Soares, também presidente da Junta Metropolitana, foi orador.
Em peso estiveram também a delegação da Junta Autónoma de Estradas (JAE), liderada por Garcia dos Santos, nas proximidades das delegações da Brisa, com o presidente Manuel Ribeiro à frente, e do GATTEL, com o presidente Vístulo de Abreu, a CP, bem como a REFER.
A entrega ao Presidente da República do certificado de garantia da grande obra foi feita por Luís Machado, o engenheiro da Brisa e do GATTEL, que acompanhou o projecto desde o início.
Tal como já sucedera na inauguração da primeira ponte em 1966, também esta foi benzida, não pelo bispo de Setúbal, mas pelo patriarca de Lisboa.
Na cerimónia de inauguração o primeiro-ministro, António Guterres, frisou que a nova travessia do Tejo no passado domingo inaugurada é «obra de todo o povo português e não de qualquer Governo».
Em declarações aos jornalistas, o chefe do Executivo destacou a engenharia e a indústria nacionais, «por ser a quem realiza que hoje devem ser dados os parabéns».
Confrontado com o facto de a Ponte Vasco da Gama não ir resolver para já o problema da entrada em Lisboa pela margem sul, António Guterres foi peremptório: «Esta não é uma ponte urbana, mas sobretudo nacional», explicou.
Em relação ao acesso à capital pela margem sul, considerou que «a questão decisiva vai ser o caminho-de-ferro», cujo concurso para concessão foi dos primeiros lançados pelo Governo.
O primeiro-ministro garantiu que a travessia ferroviária estará concluída dentro do prazo, sendo este o factor de «alteração substancial» das condições de acesso das populações residentes, nomeadamente em Almada, Barreiro ou Seixal, que trabalham em Lisboa.
Relativamente ao pagamento de portagens, disse serem indispensáveis para poder ser acelerado o ritmo de construção de auto-estradas.
«O País tem uma grande necessidade de construção de auto-estradas devido a um acentuado atraso estrutural, que implica a aceleração do ritmo de lançamento de novas vias», indicou.
Guterres rejeitou a ideia de que devam ser os idosos, os desfavorecidos, os que não têm carro ou moram em pontos longínquos do País a pagarem as travessias do Tejo através dos seus impostos.
«Têm de ser fundamentalmente os utentes a custear este serviço, porque, de outra forma, muito dificilmente os cidadãos compreenderiam um novo encargo», acrescentou
A comparticipação de fundos comunitários e outras verbas no empreendimento não foi esquecida pelo primeiro-ministro que, apesar do reconhecido esforço colectivo dado para a obra, concluiu dever ser a contribuição dos utentes das duas pontes, dada através do pagamento de portagens, a amortizar os seus custos.
O rio Tejo vai ter duas novas pontes até ao ano 2004, no máximo, revelou no dia 29 de Março o ministro do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território.
João Cravinho, que falava à Comunicação Social no final das cerimónias de inauguração da nova travessia do Tejo entre Sacavém e Montijo, disse que a próxima a ser uma realidade é a nova ponte de Santarém.
«Esperamos que a nova ponte de Santarém entre ao serviço no ano 2000», disse o ministro, acrescentando que a nova travessia do Tejo será uma estrutura de grandes dimensões, para já «a maior» depois da Vasco da Gama.
O ministro do Equipamento informou também que os estudos para uma outra passagem sobre o Tejo, na zona do Carregado, estão já a ser feitos pela Brisa, a quem foi concessionada a área onde a ponte se vai localizar.
«Dentro dos próximos quatro/cinco anos, no máximo até 2004, entrará ao serviço», adiantou João Cravinho, segundo o qual a ponte na zona do Carregado será de dimensão semelhante à Vasco da Gama.
A nova ponte de Santarém vai funcionar com a ligação da zona de Rio Maior à rede viária fundamental do Ribatejo.
O projecto, da autoria de Câncio Martins, será um dos empreendimentos da responsabilidade da Junta Autónoma de Estradas, Construção, SA, a empresa de capitais exclusivamente públicos que resultou da reorganização da antiga Junta Autónoma de Estradas.
A Ponte do Carregado é uma peça essencial de ligação do Oeste (Torres Vedras) até à Marateca, na auto-estrada para Espanha, com passagem pelas terras de Benavente e Alcochete.
A construção desta ponte conta muitos adeptos entre os
estudiosos do ordenamento do território e representará a
grande obra nacional de ligação rodoviária entre o
Norte e o Sul.
Dia 29 de Abril - Fórum Lisboa
O Fórum Lisboa (antigo cinema Roma) vai ser palco no próximo dia 29 da Festa da República, no decorrer da qual será prestada uma justa homenagem a Fernando Valle, um dos mais respeitados democratas portugueses, resistente antifascista, fundador do PS, grande referência moral de todos os socialistas e símbolo vivo dos valores republicanos.
Para o efeito, já está constituída uma Comissão Executiva que integra António Reis, João Mário Mascarenhas, Carlos Carranca, Antonino Ventura e o pintor Mário Silva.
O Presidente da República, Jorge Sampaio, integra a Comissão de Honra, que é composta por numerosas personalidades como Almeida Santos, Mário Soares, Manuel Alegre, Lopes Cardoso, Raul Rego, Aquilino Ribeiro Machado, João Soares, António Campos, Fausto Correia, António Arnaut, Teresa Portugal e Fernando Pessa, entre outros.
Do programa da Festa da República consta um jantar no Fórum Lisboa com início às 19 horas, seguindo-se uma «Noite das Artes».
Haverá intervenções de Manuel Alegre, Almeida Santos, João Soares e, espera-se caso a agenda o permita, de Jorge Sampaio.
A «Noite das Artes» constará de um espectáculo de guitarra, canto e poesia.
Haverá uma serenata de Coimbra com a participação de Luiz Goes, Augusto Camacho, José Henrique Dias, Arménio Marques dos Santos, Rodrigues Rocha e Artur Mota.
João Alvarez dará um concerto de guitarra de Coimbra e haverá um recital de poesia com João Vasco e Carlos Carranca.
Paralelamente, durante a sessão de homenagem ao camarada Fernando Valle serão pintadas três telas por Mário Silva, Michael Barret e Heitor Chichorro.
As inscrições para o jantar e espectáculo de homenagem a Fernando Valle podem ser feitas para a Biblioteca-Museu República e Resistência, Estrada de Benfica 414, telef. 7742402, fax 7782681; jornal «Artes e Artes», Rua do Salitre 155 - 2º 1250 Lisboa, telef. 3523474 e fax 3150226; «Jornal de Coimbra», Rua da Sofia, telef. 852770 e ainda para o «Acção Socialista», Avenida das Descobertas, 17, 1400 Lisboa, telef. 3021243 e fax 3021240.
A inscrição é de cinco mil escudos e inclui o jantar-espectáculo, uma medalha e um livro de homenagem.
(JCCB)
Fernando Valle, nascido mesmo no final do século XIX, mais concretamente em 1900, pela sua vivência e clarividência, apesar da sua idade avançada, é a memória do século, um século de grandes e profundas transformações, de lutas, em que participou activamente tendo sempre como lema a defesa de uma sociedade mais justa, não só nas palavras, mas, acima de tudo, pelas acções.
Figura de excepção, Fernando Valle é o exemplo paradigmático das virtudes republicanas e socialistas, uma referência moral para todos os socialistas e um exemplo vivo da verdadeira solidariedade, numa sociedade muito marcada desde os anos 80 por falsos valores como o individualismo e o sucesso a qualquer custo.
Nascido no seio de uma família republicana, desde cedo, enquanto estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, participou activamente em todos os movimentos da Academia, enfileirando ao lado dos que combatiam o integralismo lusitano.
Como seu pai, também médico, Fernando Valle exerceu Medicina no concelho de Arganil, fixando-se naquela vila aquando da instauração do Estado Novo.
Relegando para último lugar as eventuais honrarias e vantagens materiais, Fernando Valle exerceu a sua profissão de médico com elevado sentido de solidariedade, prestando todo o auxílio possível aos mais carenciados, chegando, inclusive, milhares de vezes, a pagar do seu bolso os medicamentos aos doentes com dificuldades económicas. «Foi o único médico que empobreceu no exercício da profissão», diria dele o seu colega Viegas Pimentel.
Lutador contra o fascismo, esteve presente em todas as lutas da oposição democrática, o que lhe valeu diversas passagens pela PIDE e o afastamento pelo ditador de Santa Comba de todos os cargos públicos que exercia.
Fundador do PS, foi o primeiro presidente da Câmara de Arganil a seguir ao 25 de Abril e governador civil de Coimbra em 1976, tendo sido distinguido com as Ordens da Liberdade e de Mérito.
(JCCB)