EDITORIAL



CASAL VENTOSO

O «acampamento» de toxicodependentes que existia no Casal Ventoso, junto à Avenida de Ceuta, que revoltava o cidadão comum que diariamente era confrontado com aquela triste realidade, chegou ao fim na passada sexta-feira.

Tratou-se de mais um passo positivo no combate à droga e de criação de oportunidades de recuperação de toxicodependentes. Esta iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa contou com o apoio do Serviço de Prevenção e Tratamento de Toxicodependentes, tutelado pelo ministro Adjunto, José Sócrates.

A operação de demolição e reencaminhamento para tratamento dos toxicodependentes que o desejarem foi directamente coordenada por João Soares, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que durante os dias que antecederam a operação se deslocou ao local para acompanhar a evolução dos trabalhos.

Iniciado por um «recenseamento» dos habitantes das tendas, num total de 96, este processo consistiu em encaminhá-los para um abrigo provisório, com capacidade para cerca de 50 camas, como primeiro passo para atacar o fenómeno de degradação social e humana associado a este grupo de consumidores. Paralelamente, foram tomadas as primeiras medidas propiciadoras de um tratamento médico que passa pelo programa de distribuição de metadona de baixo limiar, isto é, um programa de substituição de heroína.

Esta operação previa, também, que os toxicodependentes que desejassem regressar à casa da família o fizessem acompanhados por assistentes sociais, os outros percorreriam outro circuito. Primeiro, um banho e roupa lavada, depois a avaliação da sua situação clínica feita por médicos no próprio local, finalmente o encaminhamento para um programa de recuperação. Os toxicodependentes em situação física mais debilitada foram encaminhados para os hospitais.

Esta operação, de limpeza de um dos bairros mais degradados de Lisboa, merece o apoio e o incentivo de todos e poderá ser o ponto de partida para um debate e consequentes acções sobre o flagelo da droga na nossa sociedade. O Casal Ventoso é apenas a ponta de um iceberg do submundo da droga. Os habitantes do acampamento são apenas o rosto daqueles que «já bateram no fundo», para quem o único objectivo da vida é a procura de uma nova dose. Mas o problema da droga é muito mais vasto e profundo, merecendo um debate sério, mas sem complexos ou falsos moralismos.

A REDACÇÃO