O panorama científico em Portugal pode igualar, ou mesmo superar, a média dos países europeus mais desenvolvidos dentro dos próximos oito anos, se todos - cientistas e sociedade em geral - abraçarem a causa com «enorme esforço». A afirmação é do ministro da Ciência e Tecnologia, Mariano Gago, que participou, na segunda-feira, na sessão inaugural da iniciativa «Dias Abertos», promovida pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
No âmbito de uma intervenção intitulada «Que política científica para Portugal nos próximos anos», Mariano Gago identificou os principais desafios e oportunidades que se colocam à ciência, em Portugal, neste final de século.
«A meta está à vista», declarou o ministro, afirmando que pela primeira vez torna-se possível e legítimo avançar com aquela perspectiva optimista, sobretudo ao nível dos recursos humanos na ciência portuguesa.
«Chegámos hoje a uma situação a que todas as gerações anteriores aspiraram», prosseguiu, ilustrando com números a sua perspectiva: a produção de doutorados em Portugal tem vindo a crescer a um ritmo de 10 por cento/ano e desde 1995 a taxa de crescimento dos orçamentos do Estado para a Ciência e Tecnologia aumentou à taxa média anual de 15 por cento.
Os cálculos estatísticos permitem supor que em finais de 1997 o número de doutorados no país se tenha aproximado dos sete mil. A média europeia nos países considerados desenvolvidos situa-se perto dos 11 mil.
De acordo com o ministro, estes indicadores permitem alterar a tradicional «convicção pessimista» com a qual os cientistas portugueses se habituaram a viver. «Todos sabemos que fazer hoje ciência em Portugal é muito diferente do que era há 20 anos», declarou.
Sublinhando que a perspectiva optimista por si delineada só será uma realidade mediante «um enorme esforço» por parte da comunidade científica - que se encontra repartida entre as universidades e as instituições científicas - o ministro lançou aos cientistas um «desafio público», solicitando-lhes maior capacidade de planeamento e abertura à sociedade em geral.
Perante uma audiência constituída por várias dezenas de pessoas, sobretudo docentes e investigadores universitários, pediu aos cientistas portugueses que procedam a um levantamento das «necessidades e das oportunidades» que se colocam no panorama actual.
O levantamento, que terá de ficar definido até ao princípio de 1999 por imperativos do calendário de financiamentos comunitário, deve ser elaborado de uma forma essencialmente realista, «concentrando os recursos nas áreas para as quais existem forças», advertiu.
Defendendo a autonomia das universidades e a diversidade jurídica das instituições de investigação, o ministro procedeu ainda ao anúncio de três medidas governamentais em curso na área da política científica.
Assim, anunciou que estão a ser preparados três diplomas, relativos ao estatuto dos bolseiros de Investigação Científica, ao estatuto da carreira de investigador e à lei-quadro das instituições de Ciência e Tecnologia.
No âmbito destes diplomas, cuja aprovação em conselho de ministros deverá acontecer dentro de três meses, os bolseiros de investigação científica passarão nomeadamente a dispor de novas regalias sociais, como as relativas à maternidade, enquanto no caso dos investigadores a principal alteração diz respeito à obrigatoriedade de realizar o doutoramento.
Independente da instituição em que exercem as suas funções - seja ela pública ou privada, de ensino ou não - o doutoramento passará a ser uma via de acesso obrigatória à carreira de investigação, à semelhança do que acontece já na maioria dos países ditos desenvolvidos, referiu o ministro.
Desaparecem, com este diploma, as chamadas «provas internas» que em determinados laboratórios legitimavam o acesso à carreira, dispensando o doutoramento.
Preconizando que as universidades, dentro do seu quadro de autonomia, deverão saber gerir o seu relacionamento com os demais institutos de investigação científica, o ministro defendeu ainda a sua abertura às camadas menos jovens da população.
Para Mariano Gago, no plano da cultura científica da população portuguesa também as perspectivas são positivas. A este propósito, citou como indicador o facto de hoje ser consensualmente aceite e defendida a necessidade de uma educação científica que se inicie nos primeiros anos de escolaridade.
Até há algum tempo, essa questão suscitava alguma estranheza. Agora é um aspecto pacífico, o que, só por si, já aponta para o caminho certo, acrescentou.
A iniciativa «Dias Abertos», que decorreu até ontem
na FCUL, reuniu mais de dois mil estudantes de escolas secundárias
de todo o País, tendo-lhes sido dada a oportunidade de participar
em experiências laboratoriais, simulações, vídeos,
palestras e concursos orientados para fins científicos.
Descoberta do nosso meio ambiente
Cerca de dois mil alunos do ensino secundário vão poder participar durante três dias em experiências laboratoriais, palestras e exposições no âmbito de uma iniciativa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
Em declarações à Imprensa, Ana Bela Rocha, professora da Faculdade, explicou, no dia 27 de Fevereiro, que o evento «Dias Abertos» visa dar aos finalistas do ensino secundário «um contacto directo com as actividades lectivas e de investigação no ensino superior, o que contribuirá para uma escolha mais consciente do seu futuro».
As conferências versaram temas como as novas tecnologias, o ambiente, o aquecimento global, a oceanografia e a genética.
Esta iniciativa tem sido repetida anualmente desde 1993 e, de acordo com Ana Bela Rocha, «torna-se cada vez mais importante para ajudar os estudantes a decidir qual área devem seguir nas universidades».
Por outro lado, «cada vez mais os jovens dão preferência às ciências sociais e as ciências aplicadas também são importantes. Portanto, há que fazer cada vez mais divulgação do que é a investigação neste sector».
Vão também ser projectados vídeos sobre trabalhos de investigação oceanográfica efectuados por cientistas portugueses a três mil metros de profundidade, ao largo da costa dos Açores, em submarinos especiais cedidos por instituições estrangeiras.
Pedro Ré, responsável pelo Laboratório Marítimo da Guia, disse que esta investigação incidiu sobre «comunidades de animais que vivem em profundidades abissais, com actividade vulcânica, e que se alimentam de bactérias».
«Esta é uma das descobertas oceanográficas mais
importantes deste século», observou. Uma das câmaras
de vídeo que foi usada nas missões oceanográficas
vai estar exposta na Faculdade.
Bragança
A cidade de Bragança será pioneira a nível nacional na criação de uma rede de interligação de diversas entidades no âmbito do programa «Cidades Digitais», anunciou, no dia 27 de Fevereiro, o ministro da Ciência e da Tecnologia, Mariano Gago.
O governante deslocou-se a Bragança para um encontro com diversas instituições públicas e privadas que visou discutir as áreas de intervenção de forma a, aproveitando as novas tecnologias, facilitar a vida ao cidadão no recurso aos serviços.
Mariano Gago avançou que a intenção é criar uma espécie de «Lojas do Cidadão», como se pretende para as grandes cidades como o Porto e Lisboa, mas adaptada às necessidades locais.
«Vamos analisar como é que se adapta este conceito a Bragança, uma comunidade mais pequena com outras dificuldades, mas também com outro afastamento dos serviços relativamente aos grandes centros», adiantou.
O projecto será implementado aproveitando o serviço do Instituto Politécnico de Bragança, que dispõe de um ponto de acesso local a Internet, servindo actualmente diversas escolas da região.
«A finalidade é ampliar este trabalho para transformar o distrito de Bragança num caso pioneiro em Portugal de apoio, integração e instrução», explicou.
Mariano Gago anunciou ainda que «esta experiência será complementada com acções de formação contínua para a população em geral, de forma a ensinar a utilizar as novas tecnologias de informação moderna».
«A ideia é testar em Bragança o lançamento
de uma espécie de carta de condução de tecnologias
de informação modernas», concluiu.