Encontro/debate
Críticas dos militantes socialistas às reestruturações selvagens em algumas das empresas de capital maioritariamente público e ao défice de auscultação por parte do Governo aos militantes no que concerne à definição das políticas marcaram o encontro/debate promovido pela Comissão Política Concelhia de Lisboa do PS no dia 18, no Forum Telecom.
A iniciativa, subordinada ao tema «O papel dos militantes nas empresas, sua articulação com o Partido e o Governo», contou com as presenças, entre outros, do ministro-adjunto Jorge Coelho, da ministra para a Qualificação e o Emprego, Maria João Rodrigues, e do secretário-geral da UGT, João Proença.
O Forum Telecom foi pequeno para acolher as centenas de militantes socialistas de Lisboa que participaram activamente neste encontro/debate. Fiéis à tradição de um Partido aberto, onde a crítica construtiva faz parte do seu património e onde os «yes-men» não têm lugar, os governantes presentes em mais esta louvável iniciativa da Concelhia de Lisboa, ouviram intervenções fortemente críticas dos militantes, mas sempre tendo um traço comum: o apoio construtivo ao Governo.
Na sua intervenção, o secretário-geral da UGT, João Proença, alertou para o facto de o Governo não ouvir suficientemente os militantes na definição das suas políticas.
«À excepção de alguns ministros, como Jorge Coelho, que tem tido um papel excepcional, ao nível dos outros gabinetes ministeriais não há qualquer abertura para o diálogo com os militantes do partido organizados nas secções», disse.
No mesmo sentido, se pronunciaram diversos camaradas de empresas de capital maioritariamente público que teceram duras críticas a alguns gestores dessas empresas, nomeadamente, à forma como têm sido feitas algumas «reestruturações selvagens à custa do emprego das pessoas, mandando embora trabalhadores com mais de 50 anos».
Respondendo às questões levantadas pela plateia, a ministra para a Qualificação e o Emprego, Maria João Rodrigues, depois de agradecer os contributos das intervenções para uma melhor avaliação da realidade e pelo «apoio crítico mas solidário», defendeu que qualquer processo de reestruturação deve «precaver o interesse das pessoas». E acrescentou: «Não queremos reestruturações selvagens.»
Quanto ao escândalo das horas extraordinárias não pagas na maioria do sector bancário e segurador, outra das questões levantadas pelos militantes, a ministra considerou que esta prática constitui «um abuso intolerável, impede a criação de empregos e cria problemas familiares».
Lembrou, a propósito, as acções levadas a cabo pela Inspecção-Geral do Trabalho (IGT), uma estrutura que, sublinhou, «tem de ser apoiada pelos trabalhadores», revelando que as pressões para que as acções da IGT parem «já começaram, inclusive sobre mim».
Para as empresas prevaricadores, adiantou ainda que «as coimas vão ser reactualizadas».
Outro dos participantes nesta iniciativa da Concelhia de Lisboa, foi o ministro-adjunto Jorge Coelho que, depois de saudar esta estrutura do PS na pessoa do seu líder, o camarada Miguel Coelho, pelo «extraordinário trabalho» realizado, começou por salientar que as intervenções dos militantes só provam que na prática, afinal, os «boys» que se encontram nas empresas são ainda na sua esmagadora maioria de tonalidade laranja, aproveitando para criticar a ausência de gestores de empresas maioritariamente públicas no encontro/debate.
«Quantos gestores estão nesta sala?», perguntou.
As próximas eleições autárquicas de 14 de Dezembro foram, como não podia deixar de ser, abordadas por Jorge Coelho na sua intervenção, em que alertou para o facto destas eleições serem determinantes «a nível local e nacional», ao mesmo tempo que tecia rasgados elogios à «obra notável» dos autarcas socialistas em muitas câmaras do País.
«Obra notável» que, sublinhou, contribuiu para a vitória do PS nas legislativas de 1995.
«Os portugueses perceberam que se os socialistas faziam bem nas câmaras também o faziam no País», disse.
Considerando que «a gestão autárquica comunista é um mito», o camarada Jorge Coelho disse que a anunciada derrota laranja nas autárquicas terá como consequência o surgimento em 14 de Dezembro da «noite das facas longas» no PSD.
Depois de passar em revista a «política com resultados» do Governo do PS, Jorge Coelho falou das «aparições» do ex-futuro? líder laranja. «Bem-vindo professor Cavaco, os portugueses ainda não se esqueceram do estado em que deixou o País», afirmou.
(JCCB)