EDITORIAL



VELHOS VÍCIOS

A arrogância é como a pele. Não se consegue mudá-la. Nasce, vive e morre connosco. As pessoas, pura e simplesmente, são assim e mais nada há a fazer.

A questão prende-se com a personalidade de determinados indivíduos que, por mais tempo que passe, são incapazes de reflectir sobre a virtualidade das suas atitudes.

O facto retoma alguma actualidade com o regresso, e não regresso, do Professor Cavaco Silva à ribalta política. Habituado a ser o centro das atenções, durante a longa noite cavaquista, o ex-líder do PSD, sempre que pode, renasce para, do alto das suas inquestionáveis certezas, mais uma vez, enviar recados. Velhos vícios que o correr dos tempos não conseguiram apagar.

Efectivamente, Cavaco Silva ainda não quis, nem conseguiu, perceber que a sua ausência de dúvidas o levou a perder os últimos quatro actos eleitorais realizados em Portugal. Mais, nem sequer é capaz de reconhecer qualquer tipo de erros - e foram muitos - cometidos durante a sua forte, como gosta de frisar, governação. Trata-se, afinal, não só de um problema de umbigo como da falta de ler jornais. Um péssimo hábito que guarda ainda dos tempos em que era um político «fazedor», como gosta de se autoqualificar.

Esta semana, a propósito da atribuição de um extemporâneo prémio, pela Câmara Municipal de Vila de Rei, Cavaco Silva renasceu para enviar mais um recado anti-regionalista. Esquece-se o Professor que o seu liberalismo económico foi um dos principais causadores do agravamento das assimetrias regionais. Esquece-se o Professor das enormes dificuldades financeiras que criou ao exercício do Poder Local. Esquece-se o Professor do desemprego que criou no interior do país, obrigando as pessoas a concentrarem-se, cada vez mais, na faixa litoral numa procura desenfreada de emprego, o que criou enormes problemas sociais e urbanísticos motivados pelo crescimento não planeado dos principais centros urbanos. Esquece-se o Professor de que as principais reformas do país ficaram por fazer. O rol dos esquecimentos não tem fim mas a nossa paciência para os seus recados há muito que se esgotou. Nem Marcelo o quer ouvir.

A DIRECÇÃO