SOCIEDADE & PAÍS 



Presidente nas comemorações do 10 de Junho

TEMOS DE NAVEGAR NO ALTO MAR

Jorge Sampaio presidiu em Chaves às comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades. Ao dirigir-se aos portugueses, transmitiu-lhes uma mensagem de confiança e recomendou coragem nas suas acções. «Temos de navegar no alto mar» e com um rumo claro. Ficou também uma palavra muito especial do chefe de Estado para o povo de Timor-Leste, em relação ao qual garantiu que «lutaremos até ao fim».

Ao discursar em Chaves, o Presidente da República saudou os militares portugueses em acções de paz nos mais diversos pontos do mundo, todos os cidadãos imigrantes que vivem entre nós e respeitam as leis portugueses, as comunidades «lusas» espalhadas pelo mundo e o martirizado povo de Timor-Leste. «Lutaremos pela sua autodeterminação até ao fim», prometeu.

As primeiras palavras de Jorge Sampaio foram destinadas a lembrar o significado do Dia de Portugal, data em que se celebra a pátria, o «poeta genial» Luís de Camões e as Comunidades. Depois, mostrou-se esperançado de que a solenidade das comemorações nunca signifiquem distância em relação ao povo português, mas que seja motivo para que todos se aproximem mais uns dos outros. Para o próximo ano, as comemorações vão ter lugar em Lisboa, uma vez que coincidem com a realização da «Expo 98», e Jorge Sampaio já anunciou ser sua intenção reduzir a dimensão institucional nas celebrações deste feriado nacional.

Explicando qual a sua concepção sobre o futuro de Portugal, o Presidente da República desejou uma comunidade viva em em transformação, sempre com sentido de responsabilidade na partilha. Falou, depois, de uma comunidade que se pretende aberta ao tempo do futuro, com uma forte identidade e coesa. Importa haver partilha, generosidade, sentido de interesse público, empenhamento no combate à exclusão social e à pobreza.

A seguir, o chefe de Estado referiu como a mensagem de Luís de Camões permanece incrivelmente actual nos tempos do presente. O poeta foi um exemplo de universalismo, cantou as nossas glórias, mas apontou também os nossos erros. Ora, segundo Jorge Sampaio, hoje, os portugueses não podem ser indulgentes com os seus erros. No mundo moderno e num momento em que enfrentamos o desafio da integração europeia, «precisamos de rigor, brio e disciplina. Não nos podemos resignar às dificuldades, encarando-as como normais». Embora o Presidente da República reconheça que, muitas vezes, essas dificuldades, sejam «o preço a pagar pelo progresso», defendeu a dimensão humana do projecto europeu e o seu carácter diverso do ponto de vista cultural, adiantando que este processo de construção «será sempre uma obra de esforço». Ou seja, de acordo com o chefe de Estado, «fenómenos como a crescente prevalência do capital financeiro, a mundialização dos mercados, a precarização do emprego, os flagelos da droga e do crime, exigem-nos coragem e imaginação para os enfrentar. Temos de navegar no alto mar», acrescentou.

Jorge Sampaio chegou a Chaves na véspera das comemorações do Dia de Portugal, mais precisamente no sábado. Logo nas primeiras horas de presença naquela cidade transmontana, explicou que fora a escolhida para receber as celebrações do corrente anos, em primeiro lugar, pelo seu «património construído de altíssimo valor, símbolo da capacidade dos flavienses para enfrentarem as dificuldades». Adiantou, ainda, que com a opção por Chaves se pretendeu valorizar o interior do País. Quando se dirigia a pé para o Salão Nobre da Câmara Municipal, o Presidente da República resolveu inesperadamente quebrar o protocolo, rompendo as barreiras de segurança e dirigindo-se aos muitos populares que nesse momento o aplaudiam. Já na varanda dos Paços do Concelho, saudou a multidão que o aguardava no exterior do edifício.

A última semana de Jorge Sampaio foi ainda marcada por uma visita ao Vale do Côa, onde apreciou as gravuras rupestres e os projectos de museologização na companhia do Rei de Espanha, Juan Carlos, e do director-geral da UNESCO, Federico Mayor. Para satisfação do Presidente da República, o director-geral da UNESCO deixou a garantia de que apenas espera pela proposta do Governo português para iniciar o processo de classificação da zona como Património Mundial. Durante esta visita, pela parte do Governo, estiveram presentes os ministros João Cravinho e Manuel Maria Carrilho, além da titular da pasta da Educação de Espanha, Esperanza Aguirre.

Após a deslocação do monarca espanhol a Foz Côa, foi a vez de Jorge Sampaio retribuir a gentileza, deslocando-se a Tordesilhas, mais concretamente ao Arquivo Geral Simancas, que possui documentos importantes do tempo da anexação das coroas portuguesa e espanhola. O Presidente da República esteve ainda no Parque Natural de Montezinho, com destaque especial para atenção que dedicou à Freguesia de Rio de Onor, onde subsistem algumas práticas comunitária de vida entre a população.