LIBERDADE DE EXPRESSÃO


VIVA O 1º DE MAIO

Elisa Damião

Nos anos subsequentes à queda de 48 anos de ditadura em que as celebrações do 1º de Maio eram frequentemente repelidas, sentiu-se imperiosamente a necessidade de falar destes 150 anos. No entanto, este passado perde-se em escassos registos nas bibliotecas, votados a um ostracismo motivado por uma concepção elitista da cultura. Não há museus de luta social, escolas superiores ou universidades de sindicalismo, a história do trabalho confunde-se com a das corporações e para cúmulo não há preservação do património arqueológico industrial com algumas honrosas excepções de que destacamos a central eléctrica de Alcântara e a fábrica de pólvora de Barcarena.

Registamos com agrado que o Museu da república e resistência leva a efeito uma exposição sobre o movimento operário na década de setenta que o presidente da Câmara de Lisboa inaugurará neste 1º de Maio.

O 1º de Maio é o momento para reflectir e homenagear - o Edmundo Pedro, o mais jovem sindicalista preso no Tarrafal, cuja vida está fundida pela alegria do sonho da utopia, e pelos sofrimentos impostos pela coragem de enfrentar a ditadura no seu âmago.

Quero relembrar o Centro Promotor das Classes Laboriosas fundado em 1852 pelo movimento socialista por Antero de Quental, Oliveira Martins, Teófilo Braga, Batalha Reis e Nobre França, entre muitos outros, e o seu papel na dignificação do trabalho. Salientar que José Fontana fundava, alguns anos mais tarde, a Fraternidade Operária, com o apoio da Internacional Socialista, e que foi o movimento precursor da organização dos trabalhadores socialistas.

Relembrar ainda que Azevedo Gneco foi o primeiro delegado português ao Congresso Sindical Internacional, realizado em 1886, em Londres, com o apoio das organizações anarquistas, socialistas, comunistas e republicanas, que em 1894, no Congresso desdobrado de Lisboa e Porto, foi votada a primeira organização formal operária, a Confederação Nacional de Associações de Classe que reivindicou a jornada de oito horas que viria a ser consagrada na lei para o comércio e indústria em 1919 e generalizada em 1935.

Neste 1º de Maio convido os meus camaradas a reflectir sobre a adopção das 40 horas de forma generalizada para Portugal, mais uma vez pela mão dos socialistas. Lamentavelmente, uma estratégia política atribulada, não apenas pelos nossos adversários que se não fosse por esta razão seriam críticos apenas por termos sido nós a adoptar as 40 horas.

Não fizemos a sua ampla divulgação que defendi numa análise em que colaborou o jurista do grupo parlamentar Eduardo Quintanova, e José Viegas, director-adjunto do «Acção Socialista», por receios infundados de oportunidade e terminologia. Estamos agora numa teia de interpretações jurídicas, equívocos e intrigas de que aproveita sempre o mesmo patronato em desrespeito pela esmagadora maioria das empresas e desprezo desponderado pelos seus trabalhadores, ou melhor, trabalhadoras, como se o balanço não fosse extremamente positivo tendo beneficiado mais de 700 mil trabalhadores.

Mas nem só de coisas positivas se deve reflectir neste dia que gostaria que fosse mais de debate e menos de folclore, se o melhor neste ano são as 40 horas para todos, o pior é a crescente clandestinidade do trabalho com a sinistralidade e o acidente mortal a aumentar por incumprimento das regras de saúde, segurança e ambiente no local de trabalho.

O 1º de Maio é, sempre foi para os socialistas, desde há 150 anos, o dia para ajustar estratégias tendo em vista a cidadania e a democracia que tanto tarda ainda em muitas empresas portuguesas.

Viva o 1º de Maio porque está vivo mesmo numa economia super-simbólica como salienta Alvin Toffler ou, até por isso, enquanto houver um excluído há batalhas sociais, judiciais e políticas que nos reclamam militantemente.

PS PRECURSOR DAS NOVAS IDEIAS

Nuno Baltazar Mendes

No momento em que escrevo este artigo ainda não correu o acto eleitoral no Reino Unido, pelo que ignoro o resultado das eleições do dia 1 de Maio. Em qualquer caso um dado importante tem de se salientar: o PS foi o precursor das novas ideias e do novo modelo que a esquerda democrática está a construir na Europa.

Se em muitos casos somos acusados de seguidismo em relação aos nossos parceiros europeus, estamos agora a assistir ao contrário. Veja-se o caso do Partido Trabalhista inglês.

Quem hoje lê o programa do Labour não pode deixar de notar as semelhanças com o contrato de legislatura e o programa da Nova Maioria. Tivemos e temos ideias novas para enfrentar problemas velhos numa perspectiva de transformação da sociedade. Contrariamente ao que dizem os nossos adversários políticos, o nosso projecto não consubstancia apenas uma mera operação de cosmética. Temos ideias e ideais imbuídos de ideologia e em alguns casos objectivos radicais, o que não impede o recurso a meios modernos para alcançar tais objectivos.

A nossa aposta na educação é séria e real. Se é verdade que os resultados ainda não são visíveis, não é menos verdade que se iniciou o processo que vai levar à transformação do nosso sistema de ensino, começando pelo pré-escolar. É certo que as políticas educativas têm implicado uma negociação permanente e a participação dos cidadãos e especialmente de todos aqueles que tem uma maior responsabilidade no sistema educativo. Mas será que alguns críticos estariam à espera que seguíssemos o caminho do governo do PSD no passado, quando impunha as suas políticas sem qualquer discussão ou diálogo?

Comprometemo-nos com políticas graduais, centradas nas escolas e nas comunidades educativas, sujeitas a avaliação e a um processo constante e participado de ajustamento à realidade. Não é fácil humanizar a escola, agora o que não ignoramos é que tal só se consegue através da melhoria das condições de vida e trabalho dos estudantes, professores e funcionários.

Caminha-se, caminhando!

A fúria dos nossos adversários é compreensível. Eles já perceberam o impacto das nossas políticas e a justeza das medidas adoptadas, por isso não é de estranhar o combate que têm dado às medidas implementadas pelo Ministério da Educação. O que os preocupa não é o impacto negativo de tais políticas, mas sim a resolução dos problemas que elas visam resolver. O PSD tem má consciência nas questões da educação já que é o responsável pelo estado calamitoso do nosso sistema de ensino.

A oposição, tal como o governo, quer-se responsável e afirmativa.

A melhor demonstração do desconcerto da oposição é a total ausência de alternativas, daí a sua falta de credibilidade.

MENTALIDADE GLOBAL

Iglésias Costal

As palavras vão-se formando nas consciências, conforme a força que é imprimida às ideias. Para isso contribuem as multiformas de influência exógena e endógena.

Os problemas actuais são deveras complexos e de lenta resolução. A sociedade deseja que rapidamente os seus problemas sejam resolvidos. A educação, saúde, comunicação, habitação, em suma, estes representam alguns dos mais importantes. A sociedade quer ser tratada com dignidade e usufruir da qualidade de vida, o que significa felicidade. Diria que a nossa felicidade começa com a felicidade dos outros.

Minimamente o nosso espírito deverá balizar-se, para intervalos de satisfação mais estreitos, de qualidade de vida em todas as vertentes.

No mundo global, torna-se, por um lado, possível a resolução de problemas, como os do ambiente, demográficos, por outro, a dificuldade da coordenação e da assimilação, por parte dos povos, dos interesses que lhes estão subjacentes e a sua confluência.

A cultura de realização e solução de várias áreas será possível, tanto mais quanto se perceber a importância, para todo o planeta.

As diversas culturas são importantíssimas como as características intrínsecas das várias latitudes, longitudes e altitudes, mas com um padrão que tem que ser cada vez mais comum, como o ambiente e a qualidade.

Se compararmos as diversas vivências culturais como a europeia, asiática, africana, americana e australiana, verificamos que, em algumas, ainda há subsistemas que modificam a caracterização dessa mesma cultura. Exemplo da europeia, a latina e nórdica, na americana a dos EUA, Canadá, centro e sul-americana, na asiática o Japão, Coreia do Sul e Malásia, Vietname, Índia, na africana o Norte e o Sul, caracterizam-se realmente por diferenças culturais e comportamentais. Um indiano não entende os processos da competitividade e produtividade, estas duas palavras têm sentido ou não têm consoante as culturas. Para um alemão ou um japonês terão outro significado. E é aqui que começam as diferenças no processo da criação da riqueza.

São mentalidades diferenciadoras, mas que não excluem a palavra qualidade.

Qualquer terrestre deseja viver bem e tem esse direito.

Ora, é na conjunção do entendimento das culturas que, de alguma forma, se pretende ter um mundo global melhor.

Se perguntarmos a qualquer cidadão do mundo, como quer viver, ele é categórico na resposta. Quero ser feliz.

Chegando a este entendimento podemos começar a trabalhar, como vamos fazer.

A facilitação que existe para este objectivo é enorme. Existem muitas organizações internacionais que querem ajudar de maneira eficaz, onde o homem é o principal actor e será ele que irá prejudicar ou beneficiar estas realizações, de modo global.

O capitalismo, como o conhecemos, está em decadência. Primeiro foi o muro, a seguir será ele. O início do capitalismo teve como timbre a evolução empreendedora de alguns perante outros com menos iniciativa, de forma que a sociedade em conjunto evoluísse social e economicamente.

Nos dias que correm o capitalismo não evoluiu, pelo contrário regrediu e é gerador de conflitos e de grandes diferenças sociais. O indivíduo tende a rejeitá-lo.

O homem já se apercebeu que a sua liberdade está subjugada ao dinheiro, o tempo escasseia, no campo das preocupações elas aumentam, logo o seu estado psíquico e psicossomático fica debilitado. Têm de nascer outras formas mais convenientes de estar no planeta.

A mentalidade global é uma das formas de nos aproximarmos culturalmente para esse grande desígnio.

Quando nos chocamos pela falta de dignidade na vivência quotidiana nos próprios países, ou seja, a diferenciação entre as pessoas, podemos verificar que essa mesma diferenciação é maior entre países e entre continentes.

Quem vai à Suíça e a seguir ao Brasil, percebe o significado da diferenciação da qualidade de vida.

As populações do planeta merecem melhor. Os dirigentes terão de melhorar os seus apetites e as suas consciências.

Está na altura do empenhamento global. As fronteiras também estão condenadas. Quem viaja atravessando continentes, mares, oceanos, transversalmente navega por culturas e só culturas, porque as fronteiras, essas, estão na mente de alguns.

A globalização está aí, no mundo linear previsível ao do caos imprevisível.