OPINIÃO


RAUL REGO - SEMPRE

A propósito do artigo de José Saraiva publicado no

Jornal de Notícias em 27 de Fevereiro sob o título "Raul Rego ou D. João II"

Por norma não gosto de entrar em confronto na imprensa com outros membros do PS. Mas desta vez abro uma excepção.

Em primeiro lugar, porque o deputado Saraiva não sabe (ou já esqueceu) quem é e o que representa Raul Rego. Desconhece ou já esqueceu a dívida que o País e a Democracia têm para com ele.

Em segundo lugar, porque Raul Rego deu-me a grande honra de aceitar integrar como último suplente, a lista da minha candidatura à Concelhia de Lisboa, porque acredita e defende, como sempre defendeu, que o PS deve ser um Partido de Militantes. Foi uma forma simbólica de me manifestar apoio numa questão essencial para a vida do PS.

Dispenso-me de comentar a adjectivação escusadamente provocatória e profundamente infeliz utilizada pelo deputado José Saraiva. Termos como "entrada patética", "extrema-unção política" ou "romper e rasgar com velhos amigos", não fazem parte do nosso vocabulário interno.

Vou ao cerne da questão:

A questão que se coloca hoje em dia ao Partido Socialista é a de sabermos se o PS deve ser um Partido de Militantes ou, pelo contrário, um partido de eleitores. Um partido de militantes pressupõe regras claras de funcionamento interno, direito ao exercício da plena cidadania enquanto socialistas e naturalmente o direito de participação e debate das questões políticas essenciais, assim como o de participação nos processos decisórios das grandes questões de fundo para a vida política do país e do partido. Não se trata de defender posições basistas, mas sim de defender as virtualidades do diálogo e debate político, por si só fomentadores de mais responsabilidade e solidariedade. Em suma, os militantes querem mais informação, querem informar, e querem obviamente participar nas grandes opções estratégicas, nas quais se colocam a escolha dos seus dirigentes que tem de ser feita por métodos cada vez mais democráticos e abertos, precedida de grande debate e cada vez menos por métodos plebiscitários.

Para os que defendem um Partido de eleitores as opções colocam-se pela dispensabilidade de circulação de informação e muito menos pelo fomento do debate interno, uma vez que tendencialmente o militante é por natureza um ser alienado, abstraído das realidades sociais, apenas útil para as tarefas pesadas mas menores das campanhas eleitorais.

Vale mais portanto um relacionamento directo da classe dirigente com os sem-partido, porque aí é que estão os votos, a chamada "sociedade civil". O marketing, para eles, tudo domina e tudo subjuga. Qualquer debate interno, qualquer divergência de opinião é considerada à partida como "um tiro no pé", uma "quebra de coesão" e pior de tudo uma "quebra na nossa imagem exterior".

Em consequência há que desvalorizar as virtualidades da democracia, tornando-a cada vez mais plebiscitária, nomeadamente quando se trata de eleger os órgãos dirigentes partidários ou decidir questões de fundo. Daí a dispensabilidade de se apresentarem moções. É esta a "refundação" que José Saraiva propõe para o PS e que sugere ao Secretário-Geral, camarada António Guterres.

Obviamente que a minha opção sempre foi por um Partido de Militantes. Militantes que souberam compreender, no passado, que socialismo sim, ditadura não; Militantes que souberam compreender que quem estava certo era Mário Soares e não o ex-secretariado ou o General Eanes; Militantes que souberam compreender que a candidatura de António Guterres a Secretário-Geral, contra a de Jorge Sampaio, era fundamental para levar o PS à conquista do poder. Estou convicto que António Guterres não seguirá os conselhos dados por José Saraiva. Não se pode rasgar com a História. Há sim é que tirar lições dela. Foi aliás possível contrariar a formidável máquina de propaganda eleitoral que o PSD/Cavaco montaram na imprensa, nomeadamente nas televisões, com os militantes do PS que deram a cara nos empregos, nos bairros, nas colectividades e associações em defesa das nossas propostas, dos nossos ideais e também do nosso líder. Dificilmente teríamos ganho sem a acção no nosso camarada António Guterres, mas de certeza que não teríamos ganho sem os militantes do PS.

Os tempos de D. João II já lá vão. Cavaco Silva bem tentou reavivá-los. O PS é um partido de gente que pensa pela sua própria cabeça, que dispensa como líder um qualquer candidato a aprendiz de ditador ou uma qualquer clonagem de Cavaco.

Aliás José Saraiva demonstra um profundo desconhecimento do passado político do nosso camarada António Guterres. Sempre foi um dirigente ligado às bases, sempre defendeu as virtualidades da militância e sempre foi tolerante.

Sinceramente, não vejo António Guterres de "punhal da mão" a assassinar os seus rivais políticos, agora em versão saraiviana, a chamar os seus companheiros de velhas lutas e a rasgar-lhes os cartões de militante na cara. Só as caricaturas de líderes de partidos de esquerda é que assim procederiam. Aliás é esse o "tal mundo das trevas" que o deputado José Saraiva nos propõe: o mundo da ignorância, da intolerância e da tirania. Por mim, os valores que Raul Rego defende, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, têm cada vez mais razão de ser e actualidade. A Raul Rego os meus agradecimentos pela lição que a sua vida é e a certeza de que contamos com ele para que o PS continue a ser um Partido de Convicções e não de conveniências.

Miguel Coelho

Presidente da Concelhia de Lisboa

 

APROXIMAR LISBOA DO CIDADÃO

Pela lógica do bom senso o PS prepara-se para exercer o terceiro mandato em Lisboa, dispondo de uma maioria absoluta em coligação. Nada deverá porém ser dado como adquirido. Permanece a necessidade aproximar o lisboeta das instituições que o representam. Merece aí particular destaque o papel da Assembleia Municipal, órgão por muitos ainda desconhecido.

Sendo certo que a escolha dos órgãos autárquicos é exercida de modo tripartido (há três boletins de voto distintos destinados respectivamente à eleição da Assembleia da Freguesia, Câmara Municipal e Assembleia Municipal) justifica-se, por maioria de razão, dar mais visibilidade aos candidatos e às propostas da «Coligação com Lisboa» em cada um desses órgãos.

Na cidade de Lisboa, o PS deverá fazer um esforço suplementar para chegar ao coração dos munícipes. Como diria o slogan, teremos de ser capazes de falar lá para fora cá dentro. Temos de ter em vista em particular os eleitores desmobilizados ou aqueles que por inércia não tencionam votar, por darem de antemão a vitória como adquirida.

Há problemas que de forma recorrente afectam o cidadão lisboeta: a burocracia, os transportes, o lixo, a qualidade de vida. Numa altura em que nos preparamos para agarrar o terceiro mandato, há que dar um sinal visível aos munícipes de que estamos todos, eleitos e eleitores, no mesmo barco. De que Lisboa passou a dar sinais de vida e começou a mexer, mas que é possível fazer melhor.

Neste contexto, é eminentemente positiva a expectativa gerada em torno da designação de Helena Roseta como futura Provedora da Qualidade de Vida e do Ambiente. A sua personalidade eminentemente inconformista e autêntica, a sua experiência anterior como autarca deve ser vista como um poderoso trunfo, susceptível de aproximar o cidadão do município.

Merece reflexão, por outro lado, o papel a atribuir à Assembleia Municipal, onde a bancada do PS tem vindo a desenvolver um trabalho interessante. É indiscutível haver já hoje maior transparência nos actos camarários - o que se passou a notar na abordagem directa e frontal de situações críticas que ocorreram na cidade de Lisboa por parte dos poderes instituídos. Criou-se um estilo próprio de actuação mais próximo das populações, mesmo quando há que ouvir criticas duras. Passaram a divulgar-se publicamente e a ser discutidos balanços e relatórios da actividade autárquica exercida.

Merece aplauso o princípio da aquisição de instalações condignas para funcionamento da Assembleia Municipal. Deve ser aliás denunciada a profunda hipocrisia do PSD que votou favoravelmente a sua aquisição em sessão pública, mas que, numa cambalhota, a veio criticar para o exterior.

A par da melhoria dos meios humanos e materiais, deverá ser feita por todos uma reflexão construtiva sobre o funcionamento futuro da Assembleia Municipal. O lisboeta deverá senti-la como sua casa. Terá de perder a ideia de que se trata de um órgão onde apenas se debatem assuntos um tanto chatos e aborrecidos por uns quantos entendidos: alienações de património, permutas de terreno, taxas, derramas e coisas quejandas.

A Assembleia Municipal deverá ser pois um verdadeiro fórum onde se discutem os problemas vitais para a cidade. Para além do teor das intervenções de cada um dos agrupamentos, haverá que estudar formas operacionais e expeditas de optimizar ideias e possibilitar a materialização efectiva de propostas. Exige-se, por outro lado, cada vez mais, a existência de pessoas motivadas, disponíveis, preparadas para o exercício daquela função autárquica. Pessoas que estabeleçam uma articulação adequada entre a Câmara, a Assembleia e o próprio eleitor. Em conclusão, a Assembleia Municipal deverá ser cada vez mais a consciência crítica da cidade de Lisboa.

Paulo Rocha Trindade

 

O ENSINO SUPERIOR E A REGIÃO DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

No titulo desta reflexão, quando refiro «ensino superior» quero significar que terei presente não só as Universidades mas também os Institutos Politécnicos, assim como também terei presente não só as instituições de Ensino Superior Público, como de igual modo as de Ensino Cooperativo e as de Ensino Particular.

Na verdade, tanto umas como outras desempenham (podem e devem desempenhar) um importante papel na Região, no que respeita ao seu desenvolvimento. Na Região e no País. É o que se passa no Ensino Superior em Trás-os-Montes, que produz efeitos positivos para além das «fronteiras» regionais e nacionais.

Mas a proliferação de instituições do Ensino Superior coloca outras duas questões:

-Até que ponto a Região tem capacidade para absorver os jovens que se formam nas suas Escolas Superiores?

- Até que ponto os cursos nelas ministrados estão ajustados à realização socioeconómica e cultural de Trás-os-Montes e Alto Douro?

Tais questões assumem particular relevância quando reconhecida a sofreguidão que nos últimos anos se tem sentido um pouco por todo o País, pela criação de cursos de Ensino Superior, ditos de «papel» e «lápis», que em nada ou pouco respondem às necessidades regionais ou nacionais. Pelo contrário, muitas vezes, criam novos problemas.

Em teoria, e seja qual for o espaço em que se integram, as instituições de Ensino Superior devem prosseguir três objectivos, a saber: formação, investigação e extensão. Claro que uma ou outra destas componentes se revelam mais vincadas numa ou noutras escolas, de acordo com a sua própria vocação.

Mas se é assim, em termos gerais, é-o de um modo mais claro quando essas instituições estão localizadas numa região com atrasos e assimetrias no seu desenvolvimento. Como é o caso de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Para que o Ensino Superior se torne um factor claro de desenvolvimento, estas valências devem estar presentes em todas as suas actividades.

No que respeita à componente de Formação, ela deve consistir na efectiva preparação dos alunos para as respostas às exigências da sociedade moderna.

Cidadãos de um Mundo em constante mutação, os diplomados do Ensino Superior devem estar habilitados a procurar e a encontrar respostas para as novas situações e desafios.

Neste sentido devem as instituições de Ensino Superior organizar adequadamente os planos de estudo dos cursos que ministram, assim como planificar e desenvolver a actividade lectiva. No que às escolas de Ensino Superior da nossa Região respeita, julgo que a sua natureza e idade permite e facilita tal atitude.

Por seu lado, a investigação terá tanto interesse quanto mais incidir sobre os problemas que se colocam à região, sobre as suas potencialidades, descobrindo formas de ultrapassar os obstáculos e de potenciar os recursos.

A este nível conheço alguns bons exemplos, nomeadamente, na UTAD e no Instituto Politécnico de Bragança. Mas gostaria de ver implicadas de forma clara neste esforço as várias instituições de Ensino Particular e Cooperativo na nossa Região.

Um dos desafios que hoje se nos coloca, e que terá mais acuidade após a criação da Região Administrativa, tem a ver com o planeamento do nosso próprio desenvolvimento. Há algumas ideias já lançadas para o debate. Há especialistas em planeamento nas nossas escolas de Ensino Superior.

Torna-se fundamental a sua participação na organização do debate das estratégias mais adequadas para o desenvolvimento da Região. São as escolas de Ensino Superior, Universitário ou Politécnico, que detêm a massa crítica adequada a essa finalidade.

Já estou, assim, a referir-me à terceira vertente que enunciei - a da extensão, ou, por outras palavras, à relação das instituições do Ensino Superior com a comunidade.

Ensaiar e investigar é uma função nobre e importante. Mas só serão desempenhadas em plenitude, se os resultados das mesmas claramente atingirem a comunidade envolvente. Não pode admitir-se que o saber permaneça nas salas de aulas, nos arquivos dos vários departamentos ou que sejam transmitidos ou debatidos entre peritos da respectiva área. Qualquer escola - e sobretudo a Escola Superior - tem forçosamente de romper com a tentação de isolamento que a fragiliza, quando quer parecer auto-suficiente.

Pelo contrário, impõe-se que a informação passe as barreiras físicas que, por vezes, separam a Escola, dos que nas diferentes actividades se esforçam por revolver os problemas da sociedade e encontrar, no dia-a-dia, as soluções mais ajustadas.

Também, assim, na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

António Martinho

 

SOBRE O DESEMPREGO JUVENIL

O Partido Socialista decidiu tomar a iniciativa parlamentar de agendar um debate de urgência sobre a Política de Inserção de Jovens na Vida Activa, assumindo frontalmente a importância que esta problemática vem assumindo na nossa sociedade e das implicações transversais de que se reveste.

O Partido Socialista foi o Partido mais votado nas eleições de há pouco mais de um ano atrás, formou Governo com base num Programa que foi viabilizado nesta Assembleia, é portanto fundamental que assumamos todos as nossas responsabilidades em matérias tão importantes como estas.

A transição dos jovens do sistema educativo para a vida activa, a sua inserção ou não no mercado de emprego, a qualidade do emprego e a sua estabilidade, contribuem de forma significativa para a sociedade que todos formamos e para o desenvolvimento e afirmação nacionais em cada momento.

Desde 1992, que assistimos a um crescimento desmesurado do desemprego em geral, do desemprego juvenil e particularmente do desemprego de jovens com formação superior.

É verdade que nos mantemos abaixo das médias comunitárias, mas mesmo assim desde sempre temos afirmado na Assembleia a nossa preocupação com a situação social das pessoas e neste caso do jovens em particular. Insistimos hoje nesta área fundamental.

A análise estatística comparativa demonstra claramente que houve já uma progressão positiva. Que houve a estagnação do crescimento do desemprego que desde 92 vinha aumentando a um ritmo de 20% ao ano.

Mas é fundamental, mesmo assim, analisar as causas, porque os efeitos sociais são conhecidos.

Encarar as medidas de política, a sua concretização e acompanhamento numa perspectiva correctiva e preventiva, usando todos os nossos recursos humanos para um objectivo que nos é comum: a participação de todos no desenvolvimento e que este seja feito ao serviço das pessoas.

Como foi possível, em apenas 4 anos, assistir a um salto de 6 pontos percentuais da taxa de desemprego dos jovens e com um impacte tão evidente junto dos jovens com formação superior? Precisamente junto daqueles que estariam melhor preparados para terem sucesso na sua inserção na vida activa e contribuírem qualificadamente para o desenvolvimento das estruturas, das empresas e do país.

Políticas erradas, um envolvimento desfavorável à actividade empresarial, nomeadamente no que respeita à valorização real da taxa de câmbio (20% em apenas dois anos), manutenção de elevadíssimas taxas de juros reais que inibiram o investimento produtivo e a criação de postos de trabalho, a redução do crédito às empresas não financeiras e a estagnação da procura que levou ao agravamento do desemprego também essencialmente junto daqueles que o procuravam pela primeira vez.

Criou-se uma situação de desemprego estrutural, motivado pela desadequação da oferta de mão -de-obra à realidade do tecido empresarial. Falta de sentido prospectivo.

Mas pior, o aumento do desemprego não foi motivado pela reestruturação da nossa economia e das empresas no sentido de enfrentar novos desafios, dando-lhes assim capacidade competitiva e de afirmação externa. Foi uma oportunidade perdida.

Que outra coisa seria de esperar de um Estado que reduziu progressivamente o Investimento cientifico e tecnológico, que fez da navegação à vista a regra.

Afinal o PSD sabia do que falava quando avisou os Portugueses sobre o caos. O caos por si deixado no sistema educativo, para quem esteve sempre de costas voltadas. O caos do crescimento negativo da economia Portuguesa face às restantes economias europeias. O caos junto da geração que afinal não era rasca, mas que ficou à rasca por causa dessas políticas.

É a esta geração a quem temos de responder, que deve criticar o Governo sempre que entenda, sempre que não este não cumpra com as expectativas criadas. Queremos a afirmação desta geração de corpo inteiro. Queremos potenciar e aproveitar a sua participação social. Queremos o seu contributo activo para a afirmação dos nossos valores e para o desenvolvimento económico.

Conhecemos e defendemos as políticas do Governo, sabemos a progressão dos seus resultados concretos, exigimos sempre e cada vez mais novas medidas.

Não basta estagnar o aumento do desemprego, é fundamental continuar na sua regressão, é fundamental prevenir outro caos.

É preciso garantir a esperança para garantir o nosso futuro comum, melhor preparados para os novos problemas que não conhecem fronteiras.

É fundamental recuperar o tempo perdido. Introduzir novas atitudes e conhecimentos no tecido empresarial, renovando-o, modernizando-o e potenciando novas oportunidades de negócio. Formando trabalhadores e empresários, incentivando a participação de todos na responsabilidade do desenvolvimento comum, rejuvenescendo as estruturas mesmo ao nível da Administração Pública que tem de estar aberta aos novos movimentos participando no desenvolvimento ao serviço dos Portugueses.

Aplaudimos a reformulação do acesso ao FSE, do relançamento das medidas de apoio empresarial e de criação do auto-emprego, de integração do sistema educativo nas políticas de emprego. Aplaudimos o assumir de uma verdadeira política horizontal de Juventude deste Governo.

Estamos atentos à sua concretização porque os jovens portugueses estão ainda mais atentos. Reforçar os nossos valores pela afirmação dos nossos recursos é o nosso desígnio comum.

Paulo Neves

 

A ECONOMIA PORTUGUESA E OS PALOP

A perspectiva de alguns períodos do salazarismo de integração dos espaços económicos do antigo Império nunca teve a concretização que alguns dos mais entusiastas defensores do Portugal de Minho a Timor desejariam.

O sonho de algum colonialismo republicano e das próprias posições de democratas como Norton de Matos visando uma base económica sólida para o desenvolvimento das antigas colónias também nunca teve a concretização por muitos almejada.

As guerras coloniais e no caso de Angola, a guerra civil subsequente criaram dificuldades suplementares em economias ainda incipientes mas nalguns casos pletóricas de potencialidades.

A tardia e acelerada descolonização e a emergência de regimes seguindo um modelo de planificação económica centralizada vieram a criar alguns obstáculos ao reforço da cooperação com a economia portuguesa.

Esta, perdido o Império, num processo tardio de ruptura e libertação política, assumira com o vigor que a democracia recuperada permitia, o caminho da integração económica europeia.

A implosão da União Soviética, a crise genérica dos países de economia centralizada, a democratização dos regimes africanos de língua oficial portuguesa abriu condições para uma reforçada cooperação com Portugal.

O empenhamento dos investidores portugueses, o alargamento da cooperação entre autarquias, o apoio e o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores africanos lusófonos em Portugal, a cooperação inter-parlamentar e inter-governamental serão vectores que, potenciando o desenvolvimento das economias dos PALOP, reforçarão sectores da economia portuguesa, base real e sólida de um relacionamento fraterno e aprofundado.

Em Angola, em Moçambique, na Guiné, certamente em Cabo Verde e S.Tomé, não sendo estranhos, sendo falantes da mesma língua, teremos as vantagens comparativas de uma compreensão cultural mais próxima.

Muitas empresas portuguesas, certamente muitos trabalhadores, instituições públicas e organizações não governamentais estarão no caminho de uma cooperação reforçada.

O aprofundamento da participação na União Europeia tem que ser entendido a par com o reforço da cooperação e do investimento em África - sem paternalismo, mas com fraternidade.

Joel Hasse Ferreira

 

PARTIDO SOCIALISTA: A REFLEXÃO NECESSÁRIA

É urgente reflectir sobre a natureza, a função e a estrutura organizativa do partido moderno. E no caso do Partido Socialista, reflectir ainda sobre as consequências da sua passagem de partido de contrapoder, de partido de oposição, a partido suporte de poder, a autêntico partido de Governo.

Num momento em que tanto se fala na convulsão do PSD. Numa altura em que crises internas e o vazio da liderança, afectaria o maior partido da oposição, qual o papel reservado ao Partido Socialista?

Qual o novo contexto do partido de poder neste limiar do séc. XXI?

Depois da experiência de abertura através da realização dos Estados Gerais, após a experiência decorrente da última revisão estatutária da qual resultou o sistema das Convenções, que reflexão para enfrentar o novo modelo de poder?

Como se preenche o vazio, porque também de vazio se trata, resultante da saída dos principais dirigentes do Partido para o Governo ou outros lugares da Administração estadual?

Como construir uma retaguarda de Governo, ao mesmo tempo que se faz frente ao desafio da mudança nos próximos actos eleitorais?

Todos temos consciência que quando qualquer «frente de batalha» entra em grande efervescência é necessário ter uma retaguarda activa, eficaz e com poder de renovação das energias e dos meios necessários aos combates na frente. É isso que deve estar agora em causa quando se fala em modernização do Partido.

Não podemos, internamente, continuar a agir como se tudo estivesse assegurado com as últimas eleições, através da chegada ao poder.

O nosso trabalho deve ser o da consolidação desse mesmo poder em todas as vertentes, pois, muitas vezes, mais difícil do que conquistar o poder, é mantê-lo com prestígio e em pleno desafio democrático.

Aqueles que agora estão a desempenhar funções públicas não devem, porém, ter receios sobre a mobilidade da sua retaguarda.

Tal como acontece em qualquer «frente de batalha», quem se porta bem não precisa de ser substituído e além de mais todos têm o seu lugar assegurado numa óptica de partilha de responsabilidade com nível elevado.

O partido deve estar também atento ao que se passa na sociedade civil. O Partido deve organizar-se e actuar em função dos novos sistemas comunicativos, de novos ritmos da sociedade do saber que acaba de emergir, da nova estruturação do próprio ordenamento do território, num contexto onde a dicotomia entre o rural e o urbano faz cada vez menos sentido, mas onde o individualismo tende a ganhar cada vez mais relevo.

Depois de um período de ressaca ideológica, em que se passou a dar como adquirido o fim das ideologias, depois de uma ilusão neoliberal onde a «cultura do contentamento» passou a reinar nalguns espíritos de vanguarda, eis que (perante as grandes derivas do nosso contexto social: desemprego, insegurança, exclusão social) a redescoberta dos valores tende novamente a servir de farol, a funcionar como guia para tentar sair do fundo dos interesses meramente efémeros.

Também aqui muito há a fazer. Temos de ter coragem de assumir que somos um Partido de esquerda, ainda que hoje repensada em novos moldes e com um dever diferente na sociedade.

E ser de esquerda é ter um lastro.

É ter raízes e ancoradouro, onde outros são volúveis.

É assumir um passado para enfrentar com mais vontade e segurança um futuro tranquilo.

É ser utópico, mas ter os pés assentes na terra, onde outros são resignados e pessimistas.

É ser solidário onde se é egoísta.

É ser fraterno onde se é indiferente.

É ser humano onde se é máquina.

É ser livre onde se vive agrilhoado.

Enfim, ser de esquerda é acreditar no Homem e na sua vontade de moldar a vida ao serviço da Humanidade.

Ganhámos as eleições ao centro, mas isso não significa desfazermo-nos dos nossos ideais.

Ganhámos um eleitorado sem ideologia, mas isso não significa que não se tente ganhar esse mesmo eleitorado para os nossos valores e ideais. Se não o fizermos, a tendência será perder esse mesmo eleitorado, numa próxima ocasião.

Por todo o País deve dar-se um contributo para a renovação dos quadros do Partido. Fazer um esforço para ligar aqueles que têm responsabilidades de poder aos verdadeiros anseios e problemas das comunidades locais.

Devemos ser um Partido de todo o País e não um grupo de reflexão à escala da capital, funcionando como federação de círculos sócioculturais.

Tal como a Nação é um plebiscito de todos os dias, a construção de um partido deve ser um trabalho de todas as horas e de todos os locais.

É assim que o poder se exerce. É assim que se ganha o povo para as próximas batalhas da tolerância, da liberdade, da fraternidade e da igualdade de oportunidades.

É que, como Boaventura Sousa Santos recentemente escrevia: «Quanto mais global é o problema, mais locais e multiplamente locais devem ser as soluções. Ao arquipélago destas soluções chamo eu socialismo».

Em suma, é preciso repensar o Partido Socialista para adequar o seu protagonismo ao novo ciclo político português.

Fazer do Partido Socialista um partido moderno, capaz de criar uma visão de futuro que mobilize o povo para um novo projecto para Portugal.

José Manuel Vieira Conde Rodrigues

 

 

EM COIMBRA A DIALOGAR COM O GOVERNO

O Distrito de Coimbra foi, durante três dias, o palco para mais um "Governo em diálogo", sendo que deva destacar-se pela singularidade e pelo simbolismo políticos a realização de um Conselho de Ministros na Lusa-Atenas, denotando, assim, a elevada preocupação com que este executivo encara as questões decorrentes do distrito de Coimbra.

O PSD e o PCP juntaram mais uma vez as mãos, num já indigesto "Vodka-laranja", para em uníssono criticaram tal evento.

"A montanha pariu um rato" - referiram laranjinhas, "fiascos e operações eleitorais" - apontaram comunistas.

Em boa verdade, rigorosos fiascos devem considerar-se as mobilizações organizadas pelos comunista de "descontentamento pré-concebido".

A tradição já não é o que era - o próprio PCP e o seu peculiar espirito de militância cederam lugar à constatação de facto que as condições sócio-económicas neste distrito têm vindo a melhorar, daí a incapacidade de brindar o Primeiro-Ministro com uma vistosa manifestação.

Quanto ao PSD compreende-se igualmente a incomodidade, pois Cavaco Silva não teve a ousadia de visitar o país real com a frequência ora presenciada, por outro lado o acolhimento de que a comitiva governamental foi alvo perspectiva algumas dificuldades (inesperadas) para os "laranjas" no distrito relativamente às autárquicas/97.

António Guterres e o Partido Socialista confrontaram o país com uma nova "praxis política". O pressuposto-base é o diálogo, na capacidade singular de captar descontentamento, sugestões e anseios. O escopo é a obtenção de medidas oportunas e politicamente justas.

Na verdade, a coragem de um homem é contagiante, quando alguém toma uma atitude os outros empertigam-se.

Importa saber o que pensam as populações dos locais visitados, os autarcas dos concelhos escolhidos, mas também curar de satisfazer o descontentamento de populações e autarcas dos concelhos, que por razões de tempo, não foram presenteados. A meu ver o balanço é positivo e julgo estar imbuído do sentimento generalizado das pessoas.

Não obstante a filosofia que preside a este tipo de inéditas iniciativas governamentais ser a da postura de ouvinte (como prova o longo almoço-reunião tido em Arganil com todos os autarcas do distrito), o Primeiro-Ministro teve ainda oportunidade de anunciar e concretizar decisivas medidas para o desenvolvimento regional.

A destacar o investimento avultado na infraestruturação do sistema multimodal do Porto da Figueira da Foz que, mostrando-se decisivo para o crescimento e afirmação desta cidade, denota uma preocupação deste governo em definir uma política global de transportes, através de troços rodoviários necessariamente interligados à ferrovia e aos portos.

Articular o transporte marítimo com a componente portuária e ferroviária, no caso da Figueira da Foz, mostra-se decisiva para a cidade mas para o próprio país no contexto ibérico.

Num distrito com enorme área florestal, a preocupação ambiental é uma constante, daí a formalização de um parque de máquinas para limpeza da floresta e a constituição de uma central de produção de energia a partir de biomassa (aproveitando os resíduos florestais). Com esta iniciativa faz-se prevenção de fogos, pois limpam-se as matas, e produz-se energia.

A segurança é prioridade política deste Governo, logo, foram apresentados um milhão e meio de contos para financiar a construção de quatro novos quartéis, já em 1997, em Montemor-o-Velho, Góis, Miranda do Corvo e Arganil e lançar os concursos de novos edifícios em Maiorca, Soure, Souselas e Taveiro.

A cidade de Coimbra foi presenteada com duas obras de vulto: uma, para o seu ordenamento e para a sua reorganização urbana: a 3ª ponte sobre o Mondego; outra, o Palácio de Congressos no Convento de S. Francisco permitirá a Coimbra ter um Centro de elevada dignidade onde possam ser expostos e apresentados os inúmeros trabalhos e obras, de criação intelectual diversa, que nesta cidade têm lugar.

Enfim, múltiplas outras iniciativas poderiam aqui ser referenciadas, ao correr da agenda diária da comitiva, mas acima de tudo visa-se deixar registado que o distrito de Coimbra tem sido alvo de atenções diversas deste governo e os números de investimento nos últimos dois anos, ainda que nalgumas áreas muito paulatinamente, vão sendo disso elucidativas.

Aos críticos desta iniciativa resta-nos a esperança de algum dia poderem vislumbrar a vontade sincera que as populações têm de dialogar com o Governo e vêem nestes "Governos em Diálogo" momentos oportunos para o fazerem.

Ricardo Castanheira