EDITORIAL



CÍRCULOS DE UM SÓ DEPUTADO

O tema da reforma eleitoral não é novo, mas ganhou uma nova dinâmica quando o líder do Partido Socialista, António Guterres, o apresentou no comício da «rentrée», realizado no Pontal, em Faro. Na altura António Guterres justificou a apresentação da medida como sendo «fundamental para um melhor funcionamento da relação entre eleitos e eleitores, o conhecimento da pessoa em quem se vota», razão pela qual pretendeu mobilizar para um amplo debate nacional não só as forças políticas da oposição, como toda a sociedade portuguesa.

As respostas às boas e justas pretensões do primeiro-ministro não se fizeram esperar. O PSD, pela voz de Marcelo Rebelo de Sousa, entende que só depois de 14 de Dezembro se pronunciará sobre a matéria. No entanto, vai confundindo a opinião pública, fazendo depender a sua participação neste debate, da redução do número de deputados, da actualização dos cadernos eleitorais e da aprovação de uma nova lei de financiamento dos partidos políticos.

Sabendo-se que o PSD é favorável à criação de círculos uninominais, pelo menos já o manifestou por diversas vezes, e que «não há divergências irredutíveis na questão de fundo», não se compreende, mais uma vez, que o PSD crie falsos artifícios para dificultar a aprovação de uma lei que vem tornar mais transparente a actividade política e dignificar significativamente a função do deputado e da própria Assembleia da República.

Para o PSD e para Marcelo Rebelo de Sousa, a política faz-se cada vez mais contra o vento. Só assim se poderá compreender a inconstância das suas posições, os golpes de rins e os malabarismos que tem feito para dificultar a actuação política deste Governo. A questão da revisão da lei eleitoral, concebida com os métodos propostos por António Guterres, isto é, «em termos de isenção tal, que ninguém possa pôr em dúvida, beneficiar seja que partido for», não sensibiliza o PSD que prefere ostensivamente a querela e a calúnia, para possivelmente ter uma saída idêntica há que teve relativamente à regionalização.

A DIRECÇÃO